quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Orquestra dos Meninos


Flauta Doce - Os sons suaves e pacíficos da natureza dão o tom inicial do enredo... Arte, dedicação e paixão pela música nos desperta para princípios básicos de uma trajetória de sucesso: persistência e crença naquilo que quer conquistar. Para alcançar, invariavelmente deslocaremos pedras, estenderemos a mão e até receberemos apoio; mas nada terá sido em vão quando o som da conquista ecoar em cada universo particular.

Saxofone - E parece estranho, esse gosto pessoal por tocar um instrumento. Ou será estranho perceber que temos talento? Mais estranho ainda, é ter que desafiar a todos para fazer apenas o que gosta; mesmo que estas sejam pessoas que tanto admira: pai, mãe ou professores. Ainda assim, Mozart (Murilo Rosa) acreditava... E em meio a uma cidadezinha do agreste pernambucano, deu vida a uma arte que ali, a muito tempo estava esmorecida.

Trompete - O desdém local pela música anunciava um conhecido jogo de interesses, que em terras "distantes" ganhava dimensões absurdas. Ao denunciar corrupção, politicagem e banditismo em um município onde a justiça esqueceu de visitar, Paulo Thiago (O Vestido) consegue relacionar os elementos que compõem o jogo de poder, no qual estão envolvidos políticos, polícia, justiça e imprensa.

Tambor - O compasso é perdido por construções cênicas excessivas e desconectadas, que talvez desviem a percepção do espectador. Os atores, mesmo os globais, podem passar tranquilamente despercebidos, servindo como figurantes de uma história que por si só protagoniza todo o filme.

Orquestra - Dos Meninos (Brasil, 2007. Direção: Paulo Thiago). Aliás, a película funciona perfeitamente como registro histórico. Mostra uma região do país esquecida pelo litoral, na qual alguns "heróis" conseguem sobreviver e navegar em águas salobras. Fica a lição de que um sonho é antes de tudo algo a ser concretizado, realizado. Cabe então a cada qual acreditar e buscar os seus ideais... Os meus?? tsc tsc... Ainda estou dormindo.

Em Exibição na Sala:

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Romance

Talvez o traço mais forte que carregamos da infância seja a capacidade de sonhar e fantasiar. Antes; criávamos mundos oníricos, povoado por monstros e heróis. Agora; nossa criatividade limita-se a conjecturas sobre duas vias paralelas (será?) da vida: Amor e Profissão.

E se nos vemos perdidos ao ter que decidir sobre um dos dois caminhos, o filme Romance (Brasil, 2008. Direção: Guel Arraes) consegue nos devolver a possibilidade de sonhos esquecidos. Na película... Amor, paixão, profissão e escolhas, permeiam um enredo de construção poética e diálogos precisos; daqueles que qualquer romântico assumido fantasia viver.

Mas, Tristão e Isolda, ou melhor, Pedro (Wagner Moura) e Ana (Letícia Sabatella), sabem que um sentimento recíproco precisa de duras concessões para poder se concretizar. Entre rotinas e atividades profissionais, o casal percebe que a encenação que eles constroem no palco, está bem longe dos desafios enfrentados na vida.

O teatro, para Pedro, é o lugar da arte, onde ele pode expressar livremente o que pensa. Já Ana, permite-se a experiência do trabalho na televisão, o que servirá de mote para o conflito entre os atores.


É também através deste enlace que o diretor Guel Arraes vê a “brecha” para criticar o regime comercial imposto pela tv. Concepção acumulada, após boas produções tanto no cinema, quanto na televisão (A Grande Família - 2004, Lisbela e o Prisioneiro - 2003, O Auto da Compadecida - 2000, TV Pirata - 1988, Armação Ilimitada – 1986). Em boa parte da trama, glória e ostracismo servem de plano de fundo ao “estranho amor” do casal, o que implicará em vaidades, egoísmos, orgulhos e ciúmes tão comuns em uma relação a dois.

Romance, na verdade, não fala de uma ou duas histórias de amor. Fala de essência e circunstâncias; da maneira como a paixão e os relacionamentos amorosos podem ser efêmeros, frágeis, e ao mesmo tempo, intensos. E pra quem acredita na possibilidade de dar certo... Deixa apenas uma opção: a escolha. Até por que... Mesmo para as dúvidas que jazem acima do muro; existe apenas um lado onde cair. Qual é o seu?


Em Exibição nas Salas:
Multiplex Iguatemi - Sala 3 ( 262 lugares)
14:20; 16:30; 18:45
Shopping Barra - Barra 1 ( 301 lugares)
13:45; 16:05; 18:25; 20:45
Cinemark - Cinemark 6 ( 235 lugares)
15:50; 18:00; 20:20; 22:30
UCI Shopping Aeroclube - Sala 3 ( 247 lugares)
14:35; 16:50; 19:10; 21:30

O Grande Criador

Somos Imperfeitos por Criação!!

A batalha que o mundo artístico enfrenta contra a explosão de produtos culturais reprodutíveis e de fácil assimilação; por vezes ganha alguns soldados importantes, como os portugueses da Companhia do Chapitô. Não deve existir história mais escrita, encenada, filmada, e representada em esculturas, como a que O Grande Criador desenvolve em cena. No entanto, a exploração do Teatro do Gesto ou Teatro Físico, como forma de desmistificação, para dar imaginação ao telespectador, mostra-nos uma notável adaptação cênica.

A comédia é de criação coletiva e compõe a Trilogia de Reciclagem do grupo português; que já montou “Dom Quixote” e “Talvez Camões”. Nela, os atores Jorge Cruz, José Carlos Garcia e Rui Rebelo precisam apenas de algumas caixas vazias e poucos adereços para recriar a história da criação humana e doar à mesma um ar menos mítico e sublime. Outras tantas produções já tentaram caracterizar as passagens bíblicas com contornos de comédia e escracho. Aqui no Estado, por exemplo, Vixe Maria! Deus e o Diabo na Bahia tentou aproximar o “divino”, dando expressões culturais locais aos personagens.

Em O Grande Criador, John Mowat, que dirige o espetáculo, opera uma desconstrução simbólica no universo de percepção pública. Os dogmas cristãos são transgredidos, sem, no entanto, rasgar ofensas a qualquer apego e beatismo pessoal. O cenário compõe criteriosamente esse objetivo, fazendo com que as caixas vazias e os adereços remetam às passagens bíblicas representadas, além de dar irreverência e sátira à montagem.

Criado este ambiente, a peça constrói uma crítica ao insucesso de Deus na criação do ser humano. As passagens de Adão e Eva, Noé, Moisés ou do nascimento à crucificação de cristo, apresentam inúmeras tentativas de “ensinar” este novo ser. Mas todas as imperfeições, inerentes ao homem, são ratificadas quando o próprio criador abandona sua criatura, fazendo-nos pensar sobre os caminhos traçados para nós mesmos.


O espetáculo foi exibido no Festival Internacional de Artes Cênicas da Bahia, realizado de 24 a 31 de outubro, em Salvador e Região Metropolitana.