segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Feliz Natal

Encarar-se no espelho traz lembranças, inúmeros pensamentos, vontades e frustrações. Encarar a família traz a realidade, moça fria e impiedosa. Olha-nos, balança a cabeça, cantea o olhar e sai... Deixando o mais barulhento de todos os silêncios.

Ao entrar na casa de seu irmão Theo (Paulo Guarnieri), Caio (Leonardo Medeiros) caminha lentamente para seu passado. No lugar reencontrará seu núcleo familiar e teme reconhecer em cada expressão, sentimentos incomuns à noite natalina. As memórias estão presentes, os defeitos latentes e as críticas pulsam a casa gesto de afeto.

Caio cometeu muitos erros e agora, mais maduro, tenta uma reaproximação para se redimir com seus entes. Movimento que seu pai Miguel (Lucio Mauro) desaprova. Resta-lhe caminhar pelos rostos ariscos, sorrir para os inocentes, indagar desconhecidos e derramar-se no afago de sua mãe. Mércia (Darlene Glória) é o reflexo dessa família. Suas atitudes exaltadas, sua infelicidade gritante sinaliza um seio familiar destruído.

Feliz Natal (Brasil, 2008) soa como os votos do diretor a ele mesmo. Um sucesso digno de manjedoura é tudo o que os estreantes podem sonhar. Selton Mello começa com o pé direito. Mostra que não "dirige no escuro" e que tem plena consciência das inquietações acumuladas durante a carreira de ator. Mas os "reis magos" devem presenteá-lo apenas em outro nascimento. Por enquanto, observemos.

Selton aposta em algumas experiências com planos, cortes e montagens que incitam a reflexão do espectador e abre o leque para mais de uma interpretação do enredo. A resposta não precisa. Conformamos-nos em sofrer junto com o protagonista através das intensas e frágeis relações entre familiares.

Feliz Natal reserva um sentimento para cada testemunha, que monta seu filme ao comparar cada lembrança pessoal. Desta instituição, ninguém está livre. Feliz é aquele que guarda com saudosismo as memórias de uma vida compartilhada.

Em Exibição na Sala:

Um comentário:

Anônimo disse...

Não vi o filme, mas basta a escalação de Darlene Glória para revelar o olhar esperto do Selton. Vou ver, um dia. Abr. (carlos)